sábado, 3 de março de 2012

um aperto de mão


A carreira de repórter presume contato com o povo. Digo "presume" porque nem todos o fazem na prática; não faltam colegas que prefiram a cadeira da redação ao tête-à-tête. Como assim, repórter que não gosta de gente? É, tem. Mas esse pessoal não importa agora (e quando importa?).

As pessoas são a matéria-prima da reportagem. Sobretudo as pessoas comuns, aquelas que não têm, ao primeiro olhar, algo novo ou impressionante. Suas palavras, sotaques, expressões, sorrisos e até o seu silêncio dão o caminho de uma grande história a ser contada. Parece óbvio, mas nem sempre o jornalista se permite enxergar os detalhes prosaicos de um personagem. 

Dias atrás fomos ao subúrbio de Rabat registrar em poucas cenas a paixão dos meninos marroquinos pelo futebol. Pedimos ao taxista que nos levasse a qualquer lugar que tivesse várias crianças e uma bola. E o Mohamed escolheu a dedo: uma quadra de cimento batido a céu aberto próxima a um aterro de lixo. 

A câmera, o microfone e a camisa com o logotipo que eles não conhecem foram o bastante para que a maioria deixasse o jogo de lado e nos recebesse com euforia. Alguns deles falavam inglês, atentos em mostrar que estão prontos a receber visita estrangeira. Outros, sequer o francês, segunda língua do país. Quase todos, contudo, craques na pronúncia de nomes como Ronaldinho e, sim, Michel Teló. Brasil, Brasil!

Tivemos alguma dificuldade em conter os ânimos da molecada com a nossa presença. "Filhos? Melhor não tê-los!". Algazarra, exercício de paciência. Gravamos o necessário, fiz questão de registrar o momento em foto e partimos em direção ao carro. Eles nos seguiram, perguntaram meu nome e o repetiram certinho inúmeras vezes, Thiago! Thiago!. Perguntaram se voltaríamos, quando, que horas, se voltaríamos mesmo. 

Agradecemos em árabe, em francês, português, inglês e com a mão ao peito esquerdo em sinal de gratidão e cordialidade. E eles ali, atrás, até a porta do carro. A quadra vazia, a bola parada. Amontoaram-se quando estiquei o braço para lhes dar a mão. Um por um. Enchantée! Enchantée!! O táxi partiu e eles acenaram até que dobrássemos a rua e saíssemos de seu horizonte quase sempre esquecido. "Que coisa louca, que coisa linda que os filhos são!". 

Pressupus reportagens em diversos rostos e gestos, mas compreendi algo mais importante do que qualquer VT de um minuto e meio: o meu papel, como correspondente, não é apenas mostrar o Marrocos aos brasileiros. É mostrar aos próprios marroquinos o quão importantes são eles pra nós. 

Mostrar que as suas vidas são tão valiosas quanto um abraço ou aperto de mão.




Um comentário:

  1. Lindo, malandro! Seu papel, especificamente o seu, é levar e trazer alegria pra onde ela seja bem-vinda. Ou seja, todo lugar!! O mundo é seu, irmão! Tô louco pra apertar sua mão!!
    Abraco

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