Será que o assunto já não está surrado o bastante? A dúvida assombrou nossa proposta de pauta, mas seguimos em frente: não vale matéria o sujeito que faz com que os marroquinos, inclusive os de menor instrução, falem - ou cantem em - português?!
Michel Teló, como no Brasil, na Europa e em Tangamandápio, também é sucesso absoluto no Reino de Marrocos. "Ai se eu te pego" ganhou versão em árabe, fez os muçulmanos dançarem - e enquanto escrevo o post, já são três carros que passam pela janela de casa com a música no último volume.
Valeu a matéria, sobretudo diante da ligação estreita com o esporte. Tocamos em frente, levamos ao ar. Mas o assunto suscita um debate ainda mais desgastado que o refrão grudento do sertanejo: cultura de massa versus qualidade. Entre outras coisas.
As pessoas tendem a adotar a postura de que, se faz sucesso, é ruim. Creio que menos porque acreditam nisso, mais porque se incomodam com o sucesso alheio (opa! isso me lembra a entrevista do Amarante!!); as pessoas em geral não estão preparadas para aceitar o êxito dos outros porque são inseguras, mesquinhas e preguiçosas.
O discurso contra Michel Teló retoma o maniqueísmo que habitualmente permeia discussões como essa: se você não é fã, tem de odiá-lo. Se não o odeia, então é fã - o que, neste caso, é um atributo repleto de conotação pejorativa. Não é possível ou aceitável estar no meio do caminho.
Teló, como qualquer fenômeno de massa, é um convite aos conservadores e pseudo-cultos: "Nós, que já exportamos Tom e Vinícius, hoje exportamos esse tipo de coisa!!!! É a glamourização do sexo fácil! O fetiche pela baixaria!! A banalização dos conceitos pós-modernistas!!!". O brado indignado e envergonhado faz tanto sentido quanto dizer que nós, que já exportamos Pelé, Zico e Falcão, hoje exportamos Hulk e Robinho.
Quando chegamos ao bairro pobre de Rabat para gravar imagens da criançada, a música de Michel Teló foi a congruência entre mundos distintos. Se os brasileiros usualmente são bem-vindos no exterior, fomos ainda mais acolhidos por causa do rapaz em questão e do refrão que desperta um ódio desnecessário em muita gente.
"Gostar" é uma coisa, "reconhecer" é outra. Particularmente, sou fã. Não porque pretendo ir a um show ou porque escuto a música dele aqui em casa, mas porque Teló cumpre com o mais simples e o mais difícil: traz alegria às pessoas e une povos distantes.